Seca, investimentos e sustentabilidade são temas de debate entre autoridades portuárias do Norte e Nordeste no 4º Enaph


Debates foram divididos em dois painéis, com foco nas regiões Norte e Nordeste, Sul e Sudeste

Autoridades portuárias que integram a Associação Brasileira de Entidades Portuárias e Hidroviárias (ABEPH) participaram nesta terça-feira (17) do  4º Encontro Nacional de Autoridades Portuárias e Hidroviária (ENAPH), em Brasília. Entre os temas debatidos no evento, estavam as estratégias para minimizar os impactos da estiagem nos terminais portuários, as expectativas de investimentos para os próximos anos, a gestão dos portos públicos e boas práticas de sustentabilidade.

Na abertura do evento, o presidente da ABEPH, Luiz Fernando Garcia, destacou que o encontro nacional proporciona a troca de experiências entre as autoridades portuárias do país, na busca do desenvolvimento do setor sob a ótica de quem tem a responsabilidade de comandar os portos públicos. Além disso, devido à complexidade das questões enfrentadas pelas autoridades portuárias em um país de dimensões continentais, como o Brasil, Garcia enfatizou a importância de uma abordagem estratégica específica para as regiões Norte e Nordeste em comparação com o Sul e Sudeste.

“Nossa participação se dá na intenção de uma análise única nas autoridades portuárias frente a nossa indústria. E nós teremos dois grandes blocos de discussões. Em um país de dimensão continental como é o Brasil, faz-se necessário nós separarmos [o debate] porque a realidade do Norte e Nordeste normalmente é diferente daquilo que encontramos no Sul e Sudeste”, comentou. Esse enfoque estratégico permitiu uma análise mais aprofundada das necessidades e desafios específicos de cada região, promovendo assim soluções mais eficazes e direcionadas para o setor portuário em todo o país.

Investimentos e desburocratização

No primeiro painel, com o tema “Infraestrutura portuária nas regiões Norte e Nordeste”, contou com a participação de Gilberto Lins, presidente do Porto de Itaqui (Maranhão); Gilmara Temóteo, diretora-presidente da Companhia de Docas do Estado da Bahia (CODEBA); Marcio Guiot, presidente do Complexo Industrial Portuário de Suape (Pernambuco); e Marcello Di Gregório, diretor da Super Terminais (Amazonas). A atração de investimentos a longo prazo, planejamento e gestão portuária foram alguns dos principais assuntos debatidos no painel.

Para Gilberto Lins, presidente do Porto de Itaqui, os novos investimentos são essenciais para o desenvolvimento do setor portuário. “O Norte e Nordeste têm sido consideradas uma das últimas fronteiras agrícolas do país. E nós temos buscado atender o agro, não temos como fugir disso, ao contrário, temos que buscar investimentos para essa área. Então, temos um projeto arrojado de construção de mais quatro berços. Também temos uma busca incessante nas concessionárias, para a construção ferroviária, e temos novos investimentos e novos arrendatários”, comentou.

Marcio Guiot, presidente do Complexo Industrial Portuário de Suape, falou da expectativa de conclusão do novo terminal de contêineres no complexo, com investimento previsto de R$ 1,6 bilhão.

“Ele [o novo terminal] vem para praticamente dobrar a capacidade, então estamos falando do planejamento. Uma das grandes missões das autoridades portuárias é trabalhar olhando sempre à frente. No Brasil, infelizmente, a gente deixa chegar em situações de gargalo para começar a correr atrás”, disse. Ele ainda citou que um dos desafios do porto tem a ver com a continuação das obras de dragagem no complexo.

A presidente da CODEBA, Gilmara Temóteo, enfatizou a importância da continuidade dos projetos e da simplificação da gestão dos portos públicos. “Creio que a descontinuidade da gestão acaba de certa forma influenciando [problemas de planejamento] e é preciso e cuidado e atenção no que for planejado e feito para que a gente, mesmo que de passagem, deixe um legado para que haja continuidade [no que foi planejado]”, afirmou.

Ela citou que algumas medidas poderiam ser implementadas para flexibilizar e agilizar os processos de gestão dos portos. “A questão do conhecimento do tema passa até mesmo por este fórum. Às vezes, a gente precisa debater processos com autoridades de grande nível e, surpreendentemente, a gente percebe que não há tanto conhecimento do que está sendo tratado. Então, acredito que quanto mais conhecimento, integração e interação dessas ações e até mesmo de políticas que possam ser uníssonas para todos os portos”, completou.

Seca no Amazonas

Outro tema abordado no primeiro painel teve a ver com a atual estiagem no Norte, o que tem afetado a logística na região. Marcello Di Gregorio, diretor do Super Terminais (Amazonas), enfatizou a urgência do planejamento para evitar a paralisação das operações portuárias. Em sua fala, Di Gregorio expressou preocupação com a perspectiva de que o fenômeno se repita no próximo ano, possivelmente de forma ainda mais intensa.

“Não vemos horizonte, não vemos melhora. o Brasil sempre trabalha sempre reativamente. Desde que Manaus é Manaus nós temos esse problema [da estiagem], só que este ano foi muito mais severo. Terminais estão há 28 dias sem receber um contêiner e só vamos receber daqui 11 ou 12 dias.”

Di Gregorio destacou a importância de utilizar os dados disponíveis para um planejamento eficaz. Ele salientou ainda que, com as informações em mãos, as autoridades portuárias podem se preparar para os desafios que o próximo ano pode trazer.

O debate ressaltou a necessidade de ações coordenadas entre as autoridades, setor privado e sociedade civil para enfrentar os efeitos cada vez mais frequentes e intensos das mudanças climáticas na região Norte. A seca não apenas afeta a movimentação de cargas nos portos, mas também tem impactos significativos na economia local, no abastecimento de água e no meio ambiente.

O almirante Wilson Pereira de Lima Filho, presidenta da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), afirmou que há “preocupação extrema” do governo com a seca na Amazônia. “Realmente, iniciar as soluções quando já tivermos o problema não é o certo. O governo federal está preocupado ao extremo com o que está acontecendo na Amazônia e estamos prontos para ajudar no que puder para que não aconteça a mesma coisa no ano que vem”, disse.

Sobre o ENAPH

A 4ª edição do Enaph é promovido pela Abeph dentro da programação do Brasil Export, em Brasília. O objetivo do encontro é promover a discussão de questões operacionais, administrativas e técnicas para o desenvolvimento permanente do sistema portuário nacional. Ao longo dos anos, paineis técnicos reuniram dezenas de presidentes, diretores e gerentes de portos e hidrovias, além de autoridades do Governo Federal e de agências reguladoras para discussão do setor.

Brasil Export

O Brasil Export é um Fórum permanente, multisetorial, agregador e organiza dinâmicas para promoção do diálogo entre os diferentes agentes envolvidos com as operações portuárias, de logística e de infraestrutura. Atualmente, o fórum e seus organismos contam com mais de 250 conselheiros, profissionais qualificados e que atuam no setor privado, em entidades representativas e no poder público.

A edição de 2023 acontece em Brasília, dos dias 16 a 18 de outubro. Os painéis e discussões são transmitidas pela internet: https://www.youtube.com/watch?v=lHctNw2hPY0